DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NÃO É UMA UTOPIA
- Salvador Araújo
- 30 de mai. de 2023
- 3 min de leitura
O homem atual precisa entender que a sustentabilidade é algo possível. Urge esclarecer, no entanto, que desenvolver-se nesse paradigma não é uma questão de escolha, mas uma necessidade. Estudos comprovam que o poder destruidor da espécie antrópica pode levar ao extermínio todas as formas de vida que habitam a Terra. Isso não é uma profecia funesta, nem a filosofia de um extremista em matéria ambiental: qualquer análise do tema apontará um futuro não muito animador, caso as gerações presentes não se preocupem com essa realidade.
É claro que a discussão não envolve as variações naturais. Se o Planeta já dinamiza suas próprias alterações, tentar inverter ou neutralizar esse dinamismo é também antagônico à ideia de preservação. Ainda bem que a forma como tais eventos acontecem nem sempre dá margem ao enfrentamento. Essas forças se impõem e toda espécie de vida que se defenda; porque qualquer luta é inglória. E, se o engenho humano cria um mecanismo para afrontar a ordem natural, o resultado é quase sempre mais desastroso. Isso prova que sustentabilidade envolve respeito às regras ditadas pela natureza: inteligência não é mudar essas regras, mas utilizá-las para produzir, por exemplo, energia limpa; racional não é destruir a mata para fabricar móveis ou carvão, mas conviver com ela, de forma consciente e responsável, usufruindo de tudo aquilo que ela produz para o bem da vida.
Outro ponto de que não se pode esquecer é a possibilidade de harmonia entre desenvolvimento sustentável e crescimento econômico. O homem sempre foi tão arraigado à ideia de lucro que acabou sacramentando este paradigma: a sustentabilidade é contraditória à economia. É lamentável o que sempre se fez em consenso com esse pensamento. Pode-se dizer que a luta pela preservação ambiental encontra nesse falso axioma o grande óbice. Mas nada disso é verdade: o tema não guarda relação com lucro ou prejuízo, é só uma nova postura humana frente a um bem que é de todos.
O crescimento pode-se dar na forma extensiva ou na intensiva. Na primeira modalidade, ele ocorre quando uma população se espalha por novas áreas. Em regra, é o que acontece nas conquistas territoriais. Já o crescimento intensivo advém da exploração da força de trabalho, do capital e dos recursos naturais. Os dois tipos podem ser danosos. Basta lembrar, no primeiro caso, os prejuízos causados pelo colonialismo; quanto ao segundo modelo, tem-se o emprego malicioso do capital, qualquer que seja sua origem, a insana utilização da força do trabalho escravo e a degradação ambiental advinda de condutas irresponsáveis em busca de matéria-prima.
Mas, como alcançar o desenvolvimento sustentável? Qualquer iniciativa começa pelo despertar de uma nova consciência. Fala-se da necessidade de se alterar a legislação ambiental, mas isso nada influenciaria; necessário é educar o homem na bitola das normas existentes. O desafio é enfrentar, por exemplo, a imbricação do setor público com o privado, a ganância por divisas, o atrelamento da economia a índices como PIB, renda per capta, poupança interna e Mercado de Capitais. Entretanto, o Programa das Nações Unidas (PNUD), indiferente a esses fatores, calcula o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) pela combinação entre a renda, a expectativa de vida e o acesso à educação. Essa é uma forma mais humana de se conhecer o estágio em que se encontra um povo.
Então não haverá sustentabilidade à vista da injustiça social, do empobrecimento de uma parte da sociedade em detrimento do acúmulo de riqueza nas mãos de uma elite. Nesse novo paradigma, nada significa o status positivo de um vetor econômico frente a uma injusta política distributiva da renda. E, se todo homem tem direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, inegavelmente um bem de primeira necessidade, degradar esse Meio é desrespeitar os Direitos Fundamentais. Da mesma forma, o capitalismo voraz, que implanta na população mundial a necessidade de estar sempre consumindo, é um agente violador da Dignidade da Pessoa Humana. Pois a dependência produzida pelo consumismo é a mais atroz escravidão do nosso tempo, um dos mais potentes inimigos do desenvolvimento sustentável.
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